As contradições da sustentabilidade na levi’s: grandes vendas, grandes promessas

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A marca celebra 53 anos no Brasil enquanto expande sua produção, mas será o discurso ecológico mais do que marketing?

Crescimento acelerado vs discurso verde

A Levi’s completa 53 anos de história no Brasil promovendo expansão em larga escala. A rede deve crescer de 80 para 100 lojas até o fim de 2025, com uma combinação de unidades próprias e franqueadas, apostando em vendas expressivas mesmo enquanto se posiciona como “verde”.

Iniciativas sustentáveis (e limites)

A partir dos anos 2000, a marca introduziu ações como redução de água em até 96% no processo produtivo, projetos com algodão de menor impacto e reciclagem de jeans. A linha Wellthread surgiu em 2010 como laboratório eco-consciente. No entanto, essas iniciativas representam apenas uma fatia limitada do volume total de peças produzidas pela empresa.

Terceirização e falta de transparência

Com cerca de 500 fornecedores diretos em mais de 40 países, a Levi’s terceiriza boa parte da produção. Essa cadeia inclui fábricas envolvidas no tingimento, corte e costura, com fiscalização muitas vezes precária. Relatórios internos indicam que auditorias detectaram falhas graves, como jornadas excessivas e violação de direitos trabalhistas, em 12% dessas unidades.

Casos que derrubam o discurso

Em 2023–24, cerca de 400 trabalhadores foram dispensados após se filiarem a um sindicato na Turquia. A Levi’s prometeu revisar a relação com a fornecedora, mas manteve contratos. Já na África, denúncias apontam que operárias eram obrigadas a favores sexuais para manter o emprego. A marca assinou um acordo com sindicatos, mas mostra que auditorias nem sempre previnem violações.

Expansão acima de tudo

Num cenário em que a Levi’s projeta crescimento de 18% na receita no Brasil e receita global de US$ 1,4 bilhão no segundo trimestre, a sustentabilidade aparece em segundo plano. A lógica segue sendo produzir mais, vender mais, crescer mais, e não frear o consumo.

Marketing verde ou greenwashing?

Com discurso ambiental, a marca atrai consumidores conscientes, mas a estrutura global revela um modelo ainda sustentado pela produção em massa. O contraste entre práticas eco e estratégia de venda aponta para uma fragilidade: a sustentabilidade parece ser, sobretudo, uma peça de imagem, e não uma transformação profunda.


Por que isso importa?

O caso da Levi’s exemplifica o dilema da moda sustentável: por mais que existam ações pontuais, sem mudanças estruturais — produção reduzida, respeito trabalhista real, transparência total, o sistema permanece dependente da lógica capitalista de crescimento contínuo. A sustentabilidade, nesse contexto, corre o risco de virar discurso vazio.

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